viagem

Fotografia de Elsa Martins Esteves

Passa o comboio

No dia das luzes.

Paraste na linha

Porque te caiu o brinco

E não podias ir para 

A festa sem o

Toque do brilho que te falta no olhar.

Anda o comboio na

Tarde de sol.

Vês a linha pela

Porta da estação porque

Tens as costas escaldadas

E ardem-te com o calor. 

Corre o comboio na

Noite de estrelas.

Estás perto da linha

Mas receias o frio dos 

Carris porque te esqueceste do casaco em casa.

Pára o comboio no

Amanhecer.

Adormeceste na linha

Porque não tens cama

Onde te deitar e estás com uma enorme

Falta de sono.

Trava o comboio no

Anoitecer.

Atiraste-te para a

Linha para fugir do

Cão gigante que te

Perseguiu desde o

Arvoredo à estação, com baba

No focinho de quem não mata mas morde.

Retoma o comboio mas

Ninguém tem horas que te diga.

Olhas para trás e vês o

Comboio na tua direcção e

Olhas em frente e ele já passou

Tens a roupa toda no corpo e energia para correr três quarteirões.

Ficaste no meio do que veio e do que foi.

És a linha.