frio

  Serra do Caramulo, 2013


há a névoa que revela
e o calor que esconde
vivem ambos na contradição dos dias
como as folhas que caem antes do Outono
e abraçam o chão tão graciosamente
como só as coisas fora de época podem
há os piqueniques natalícios
a carne quente sem cobertor
o beijo rápido na despedida
há quem ame sozinho
e quem é sozinho e ama em
segredo
há os corpos despidos na chuva -
não.
há o corpo despido na chuva.
e é só um.
é noite
a rua está cheia da gente
que rasgou o alcatrão nessa mesma tarde
há o choro educado pelos agradecimentos vazios
a garganta presa, oprimida e gelada
e as picadas no peito, que são piores que a doença,
a anunciar a manhã.
deita-se a Humanidade no gelo derretido
da relva seca
há o último sopro
que sempre quis ser palavra
e nunca conseguiu por
faltar o ar à alma partida
é só um o corpo e pertence a todos
e todos lhe conhecem o odor a lenha
e a suor
falham os pés descalços ao organismo estático
há o cair do corpo deitado
que nunca se levantou
por ser a leve brisa,
o vento da manhã,
do lençol mais branco.

2 comentários: