formiga

Escrevo sobre o mesmo vazio há tempo suficiente. Começa a incomodar-me esta insistência nos mesmos problemas metafísicos por resolver. Só há em mim o queixume e a dor, nada mais. Não há soluções, nem provisórias nem vitais. Não há o atenuar temporário do questionar inacabável. Não há em mim coisa alguma que me sirva de energia para pegar nas malas e fugir deste meu eu tão velho e gasto.
Repugno-me como se respirasse um ar denso e frio. Beijo suavemente a Frustração com lábios de criança e sopro-lhe ao ouvido convites precipitados. Sou vítima da minha própria alma desajustada. Se antes fosse um outro animal, como uma formiga, pequena e singela, a quem ninguém nunca concede obrigações ou predefinições.
Às formigas ninguém diz como é que se deve viver. Das formigas ninguém espera nada para além de comichões na perna ou muitíssima negritude. Se eu fosse uma formiga vivia até alguém me pisar. E, no instante em que sentisse o peso da sola de borracha, morria. Não continuava, intemporalmente esborrachada, a contorcer-me vida fora, à procura do pedaço perdido na esmagadela.

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