diálogos quase improváveis

Sentia-te distante de mim.
"Estás aí?"
Questionava-te vezes sem conta mas tu olhavas para mim com esse olhar enigmático que conta uma história romântica grega. Olhavas para mim e querias chorar mas não conseguias. Oh! como era frustrante ver-te a lutar  com a tua própria alma enredada em teias das aranhas que te atormentam à noite. No entanto, querias rir. Mas algo te gritava muito de mansinho ao ouvido que não devias, que isso seria sarcástico e parvo. Ficavas então nesse teu estado sorumbático e funesto e observavas-me e ora tentavas rir, ora tentavas chorar. Quis ajudar-te mas saltaste para trás. Disseste-me que para partir um ovo bastava apenas uma mão. Questionei-te. Voltaste ao princípio e riste e choraste e olhaste-me, um olhar já um tanto revelador. Depois algo de fantástico aconteceu. Olhaste para mim e disseste-me quase a gesticular as palavras com cuidado "Os olhos são o espelho...". "Da alma?" disse-te, supondo. Fizeste um meio sorriso e abriste os olhos tanto que me pareceram saltar-te da face. "Não vês?" perguntaste-me, desesperançada e tétrica. Disse-te um "Não" quase sem som porque me fizeste sentir inepta e néscia e não queria dizer que não te estava a perceber, a ti, que és tão pequenina, muito alto, fosse alguém ouvir. "Os olhos são um espelho, sabes... Escolhes ser pura e escolhes perceber. Não vês o que não queres e não queres porque tens medo... E o medo, embora humano, é aviltante."
Estava parva, estática, sobrestada. Pelo tanto que me dizias e por saberes mais do que eu... Até iletrada me senti! Mas depois reflexionei e desta vez encarei-te de frente "Porque é que não compreendo?"
Foi então que, muito risonha e divertida, me arrostaste de sorriso nos lábios "Porque a percepção mais difícil de realizar é aquela que nos engloba a nós mesmos."

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