à conversa comigo própria

já escrevi isto há imenso tempo, numa daquelas crises existenciais, num daqueles momentos em que fraquejo. agora, relendo tudo isto, a resposta que se cria logo na minha cabeça é "não, não é normal fazer-se isso tudo. se alguma vez isto for normal, é normal apenas nesta sociedade de treta que degenera década a década." então agora em que me encontro numa situação em que estou a ter a certeza absoluta do tamanho da maldade, falsidade, hipocrisia e ignorância das pessoas, ainda mais me convenço que hoje em dia o Mundo é uma tristeza. restam-nos aquelas pessoas que são como nós, tão puras e espontâneas quanto podiam ser, sinceras e lindas.
este texto é muito pessoal e por isso foi preciso muita coragem para ser colocado online. hope you enjoy it :)

"O que se passa contigo, Maria? Podias perfeitamente ser uma pessoa normal. Deixares-te das tuas manias de levar sempre a tua avante, defender todas as tuas ideias. Deixares-te da tua aversão ao uso frequente da palavra “Amo-te”. É uma palavra, sabes?
Podias deixar-te dos teus medos e inseguranças, podias sorrir e conseguir dizer que és feliz sem murmurares para ti própria que estás a mentir. Podias não ter vontade de chorar. Podias deixar de ser tão estranha e esquisita, Maria. Podias, não podias? Era tudo tão mais fácil. Não é o que as pessoas fazem? Sentem-se felizes e isso basta-lhes. Porque és tão insaciável? O Mundo é muito grande, Maria, nunca o conseguirás agarrar com a tua mão. Observa. Vê como ela é pequenina. Um Mundo não cabia, Maria. Cabe-te uma laranja e é com sorte.
Não te percebo. Devia ser a única a conseguir fazê-lo e sou a que mais te questiona. Afinal, tu és eu, Maria, e eu sou tu. Não te irrites, sei que odeias constatar coisas óbvias. Mas ao constatá-las, ouve-las e elas passam a ser verdade.
Pára de ser medricas, Maria! Pára de ser tão tu. Pode ser? Não sei viver assim.
Pára de gritar quando te agarram no pulso, pára de duvidar de toda a gente. Pára de te rebaixares tanto. Não fazes isso por mim?
Tantos milhões de pessoas não podem estar todas erradas, já viste? Se calhar é normal dizer as coisas só porque sim. Se calhar é normal ser-se falso e é estranho ser-se tão honesto quanto tu. Se calhar, Maria, é melhor ser-se banal e vulgar. Talvez precises de ser parva e infantil, precises de ser burra e inculta. Se calhar, precisas de te preocupar só em estar bem vestida e em ter muitos amigos no Facebook. Talvez não precises de ler e estudar, investigar e escrever. Ouvir tanta música, imaginar e pensar tanto. Se calhar podias limitar-te a acções. Simples, estúpidas, ridículas, monótonas. Será isso?
Maria, Maria. Não é normal. E que não é normal eu sei, que alguém pense aquilo que pensas sobre tudo o que te rodeia, já tinha eu percebido. Tens pensamentos tão esquisitos, já viste? Pensas, pensas, pensas... Estás sempre a pensar. Não há chá de camomila que te salve, Maria. Tanto pensamento há-de dar-te dores. E eu sei que dá, muitas dores de cabeça.
Oh, Maria… o que queres que te diga? Estou sempre a dizer-te o mesmo. A perguntar-te o mesmo. Não gostavas de ser como eles? Debaixo das camadas do teu orgulho, das tuas opiniões tão bem delineadas. Debaixo de ti mesma. Não gostavas de ser normal? Eu sei que tu já pensaste sobre isso. É difícil ser-se estranho neste Mundo grande, Maria. É muito difícil. E, pergunto-te, és forte o suficiente para isso? Se vais ser assim agora, és assim até ao fim. Vou deixar-te andar, Maria. Sei que mesmo que quisesses muito não conseguias. Tu és assim. Resta-te a esperança que alguém te limpe a turbulência dos olhos e te faça ver que não és mesmo estranha, do modo que tu pensas. És só especial."

1 comentário:

  1. ao ler, não posso deixar de comentar. sabes o que te costumo dizer e o que vou continuar sempre a dizer-te a cerca de tudo o que aqui disseste.
    Aquilo que se passa lá fora pouco importa. Ou melhor: importa, mas não neste momento, para tudo aquilo que és e que aqui escreveste.
    Tu não és 'esquesita' ou 'fora do normal', porque em 1º lugar, não existe um padrão da 'normalidade'. Ser normal é um nome... Uma coisa qualquer, de modo a tornar o mundo mais simples, todo igual. Não há pessoais normais nem há pessoas anormais.
    E Maria, apenas há uma! Apesar dos milhões de pessoas com o mesmo nome que tu, serás sempre a única Maria. A única tu. E isso nunca ninguém te poderá tirar.
    Tu, como tu própria reconheces, és bastante esforçada, és tão culta que chega a assustar quem não o é. O teu vocabulário está a léguas de grande parte das pessoas, a tua maneira de pensar e de escrever também. A tua sede pela leitura, pela escrita e por ti mesma é o que te faz ser especial. O que te faz ser tu.
    Quanto à maldade e falsidade que te rodeia não só a ti, ou a mim.. Mas a toda a gente: o melhor é seres superior como na realidade és.
    Tu és grande, és forte. És maravilhosa.

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