solidão

Não gosto da solidão. Não gosto. Assusta-me, arrepia-me. Não gosto.
Se há coisa de que tenho medo, é dela, da solidão. Talvez por já me ter sentido sozinha tantas vezes… Talvez seja por isso que cada vez que penso nela sinto uma toupeira invisível cavar caminho por entre o meu interior, de cima a baixo. Quanto mais penso no quanto quero rodear-me de pessoas, mais sozinha me sinto. É uma espécie de psicologia invertida que ocorre sem eu dar conta. Quanto mais me esforço para afastar a solidão, mais ela se aproxima.
Estar a escrever isto, é uma tremenda arlequinada. Sinto-me inútil e sozinha.
Porque é que tudo o que escrevo se torna tão avidamente irónico?
Como Dakin, no filme The History Boys, disse, “All literature is consolation”*
E realmente, não podia concordar mais. Tudo o que escrevo serve-me de consolo. Penso que seja por isso que quando me sinto mais próspera, mais ditosa, não sinta tanta necessidade de escrever, aliás, talvez seja por isso que nem o consiga fazer em condições. A literatura é feita de drama, de queixume, de inseguranças. É como se fosse um porto seguro onde depositássemos aquilo que dentro de nós está e que por nosso desejo deva permanecer assim, dentro de nós. A relação entre a literatura e o escritor é sempre assim, assaz íntima. Tudo o que escrevemos, é a extensão da nossa alma. É mais um bocado de nós… Por isso é que escrevemos. Para deitar cá para fora o que não conseguimos dizer a ninguém. Talvez… talvez seja isso.
Também nos serve de reflexão. Quando escrevo, e o releio, tomo a plena noção do quão estúpida sou. É o que vou claramente pensar quando reler isto. Mas que me importa? Se não fosse estúpida não era eu. E isto também faz sempre parte da literatura: um comboio de mentiras doces e aveludadas, que nos enchem de conforto.
Claro que me importa se sou estúpida ou não! Sou demasiado céptica para não me importar com isto. E aqui estou eu a concluir.
Divago sempre de uma maneira, que ora me faz confusão, ora me faz rir. Tenho a mente demasiado dispersa. Mas quem, no seu perfeito juízo, tem a risível ideia de ler um dicionário? Não gosto nada de perguntas retóricas, mas aqui estou eu a responder a uma. Eu.
Tenho sede de aprender, de saber. Muitas vezes não tenho é a disposição. Sou um pouco preguiçosa… Também tenho que começar a dormir mais. Mas é uma autêntica perda de tempo. No entanto, sonho imensas vezes com coisas interessantes. E absurdas também. Não que o absurdo não seja interessante… mas são coisas absurdamente ridículas.
Falava eu de solidão, não é? A única coisa que sei fazer é flanar, sinceramente…
Mas, para não dizer nada mais soberbo do que algo que já tenha dito anteriormente: sou apenas mais uma pessoa com medo da solidão e que se agarra à escrita para a silenciar. Mas cá dentro, ela continua a gritar, a atemorizar-me de uma maneira desconfortável.

* “Toda a literatura é consolo.”

8 comentários:

  1. eu colecciono todos, já à muitos anos

    ResponderEliminar
  2. Muito bem, princesa. Mas o melhor de ti é o que partilhas todos os dias com aqueles que te amam. Círculo restrito a que tenho o privilégio de pertencer...
    Beijo grande.

    ResponderEliminar
  3. pois é, são mesmo lindos (: e é verdade retro é normalmente fantástico!

    ResponderEliminar
  4. "ninguém sofre para sempre. porque o sempre implica a morte e a morte implica estar morto. e estando morto, não há grande coisa a sentir.. aliás, nenhuma coisa."
    não diria melhor, na realidade não o chegaria a dizer, de génio. Há pensamentos curiosos, de onde vêm... vá-se lá saber! É esse também um pensamento curioso...
    também escreves muito bem, noto algo de precoce que tem o seu encanto, eu sou apenas (talvez) humana
    vou continuar a seguir-te! gostei muito!

    ResponderEliminar
  5. deixa de ser nosso o que escrevemos, ninguém tem o direito de reclamar uma sopa de palavras e o que escrevemos tem de nós apenas metade, o resto é do leitor, ainda que sejamos nós mesmos o leitor...
    o grito do silêncio é o terror de muitos, afecta todos e cada um...

    xx

    ResponderEliminar