quando penso demasiado..

Há alturas na vida em que nos sentimos realizados. Há alturas em que nos sentimos apoiados nas nossas escolhas, gostos, na nossa maneira de ser, por muito mais peculiar que seja. Há alturas em que pensamos que as pessoas que estão lá o vão fazer por rotina, que vão estar lá para sempre e não nos conseguimos imaginar sem elas. Há alturas em que temos sempre um amigo pronto para nos ouvir, para nos limpar as lágrimas. Há alturas em que, pensamos nós, não estamos sozinhos.

E então, dá-se aquele momento. O momento em que percebemos que temos vivido numa farsa. Que não temos sido nada para além de iludidos e que estamos sozinhos contra o resto do Mundo. Que temos que ter os pés no chão e a cabeça no subsolo, saber avaliar, saber em quem confiar. Nesse momento, temos que nos agarrar com força à realidade, temos que a enfrentar como ela é e não deixar a cabeça voar até ao sítio onde tudo é óptimo. Temos que saber optar pelo correcto em vez do fácil, do ideal em vez do agradável. Temos que ter consciência de coisas que nos podem chocar, magoar e irritar, até. Depois desse momento, passamos a odiar o Mundo. As pessoas parecem-nos bonecos repugnantes e egoístas que só são capazes de lá estar quando sabem que a atenção vai ser recíproca e que os conselhos e o apoio serão mútuos. Sabemos que as pessoas conseguem ser más, frias, conseguem abdicar do facto de terem ouvidos para nos ouvir, braços para nos abraçar e um ombro e um colo vazio, pronto para nos receber de bom grado. Conseguem esquecer-se de que têm coração. Esquecem-se até de tudo o que fizemos por elas e parece-lhes mais lógico darem-se com o popular que com o verdadeiro. É o pior momento das nossas vidas, estou certa? Nem todos já passámos por isto e continuamos a crescer, sempre para melhor, aprendendo com os erros. Porque embora fiquemos mais magoados, ficamos mais fortes.

Mas eventualmente, mais cedo ou mais tarde, todos nos apercebemos de uma coisa: verdadeiros são aqueles que substituem um dedo da mão, nunca passarão dos dez, e claro, inclui-se sempre a família. Porque outras coisas podem mudar-nos, mas nascemos e morremos sempre com uma família.

Somos as nossas escolhas, as nossas respostas, as nossas perguntas, os nossos gostos. Somos a nossa personalidade, a nossa evolução, os nossos pensamentos e as nossas conclusões. Não somos alguém que podemos moldar à sociedade. Podemos apenas moldar-nos às nossas experiências. Por isso, ver para crer, sofrer para perceber. E todos, um dia, nos vamos sentir preenchidos e pertencentes a um lugar. Nem que esse lugar seja o coração de alguém.

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