tal e qual

“Pouco a pouco, tornei-me um observador muito bom. Posso reconhecer facilmente aqueles que são atormentados por essa necessidade interior. Muitos dos meus amigos me tomaram por confidente. Vêem em mim um tipo criado expressamente para ouvir as confidências dos outros. Nunca compreenderam o pouco que a sua alma me interessa, pela simples razão de as suas confidências serem mentirosas. Cada um tenta parecer aos olhos do outro mais original do que é, cada um tenta obter a qualquer preço a admiração ou compaixão de outrem.

E, no entanto, também eu, sinto às vezes a necessidade de abrir a minha alma. Mas não cedo. E nunca falo, a ninguém, daquilo que eu suponho passar-se no fundo de mim. Não gosto de confidências. Estão sempre ligadas ao que há de mais fraco em nós. Não compreendo como é que um homem poderia necessitar o apoio de outro. Mesmo o melhor amigo é um inimigo nos dias difíceis. Em tais momentos é preciso ficar só. É somente preciso vencer ou ser vencido.”

Página 5; Capítulo IV: Entre Nós, Os Dom Juan; O Romance Do Adolescente Míope; Mircea Eliade

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